quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Uma calma tarde de sete de setembro


A tarde está cheia de sons como se todos os bem-te-vis houvessem encontrado o caminho do cajueiro de minha casa. Quase fico parada, melhor, sentada na porta da cozinha sem coragem de fazer um café. Como sair de perto de tão belo concerto? E meus pés continuam sem se mexer...
É tarde de sete de setembro. E as árvores estão recebendo esta claridade do sol. As flores do cajueiro estão envelhecendo e caindo: surgem os cajus vermelhos e suculentos. Mas o vento passa morno por entre as folhas e sobe alto, alto como se quisesse brincar com os pássaros.
O capim crescido cochila ao sabor do dia que segue. Está florido e as pequeninas flores sorriem de dente de fora. Logo serão levadas pelo vento e germinarão outra vez. É o ciclo da vida. Os bem-te-vis também derrubam as castanhas do cajueiro para o mesmo fim. É a natureza independente da mão do homem. Calma, às margens plácidas da tarde.
Cada vez mais vida. Cheira a muitos outros dias de setembro que virão certamente: a meninos correndo com suas bicicletas, a pó das estradas quando os homens passam com as palhas das carnaúbas nos lombos dos jumentos, a café, a cajuína (com aquele sabor de coisa feita em casa)...
Então me levanto como nuvem de passagem... os bem-te-vis com seus sons ainda em êxtase imenso para me fazer sentir que vou seguindo, que vou seguindo... e os gorjeios insistem.

domingo, 21 de agosto de 2011

A família é tudo



Neste domingo, acordei com o sino da matriz. Depois ouvi o cantar de uns bem-te-vis na goiabeira. Que eu gosto dessa melodia na hora do café, aqui em casa ninguém duvida. Já são bem conhecidos os gorjeios e neste domingo em especial me pareceram bem apropriados. Então, fiquei alguns instantes de pé na porta da cozinha louvando ao Criador por haver pássaros no mundo.
Bem, hoje é um dia especial. Oh! estou em casa com todos os meus filhos! E os bem-te-vis têm o lirismo da voz de meus amados quando pequenos (agora a caçula tem 21 anos). Estar com todos eles tomando o café da manhã é como se diz na igreja católica: renovar o espírito.
Quero esclarecer que muitas vezes senti minha alma assim: lembro exatamente de quando cada um nasceu, dos primeiros passos... E tenho guardada em casa uma foto, com os quatro na varanda da casa (as roupinhas feitas por mim). Boas lembranças!...
Posso garantir que no dia em que os três mais novos foram moram na capital tive ímpetos de riso e choro: senti-me perder, ganhar e vi-me com sonhos conquistados através dos sonhos deles. Esta é a lei: um dia os filhos crescem e vão por seus próprios caminhos.
Ah! eu ainda me vejo com eles correndo pela casa e pedindo para eu fazer cuscuz ou bolo frito para se tomar com café!... Ma não, bom estar com eles em casa agora, a abraçar-me como uma flor. E dizem-me: Mamãe, a senhora tem um cheirinho tão bom! Posso querer algo melhor? É claro que não. E louvo a Deus. 

domingo, 7 de agosto de 2011

A Fé e a Violência

A semana se encerrou para mim com comprovações de violência, tanto na capital como no interior. Vi e soube de homicídios de adolescentes, incluídos como traficantes de drogas, ainda que tão jovens. Não são boas lembranças.
Mas estou com esperanças de uma boa semana, a contar para a noite de hoje – domingo. Os jovens da cidade conseguiram reunir um bom número de pessoas para a missa campal na Praça Irmãos Dantas. Uma senhora residente nas proximidades do lugar será responsável para abastecer as crianças com água, já que estamos num dos meses quentes do ano. Aqui chego a outro ponto para compor minhas linhas: O verão do Piauí neste ano de 2011 vai ser muito seco.
Quando o verão chega, as temperaturas ficam tão elevadas que os dias parecem não acabar. Homens que trabalham ao sol e que tiram da terra o sustento da família, bem sabem que esta época do ano exige muito de quem mora no interior. O pão é caro e a água mais difícil. Somos todos conscientes disso? Parece que não. O lavrador precisa ganhar o suficiente para alimentar uma casa de, no mínimo, umas quatro pessoas (digo por saber da bolsa-família) e tem que pagar pelo que come. Mas a terra seca fica improdutiva. Daí a falta de empregos. E, valha-me Deus, os fracos de Fé caem na vida errada! Essa é a defesa de uma mãe solteira, para o filho adolescente de 17 anos, ter se envolvido com o tráfico de drogas. É preciso analisar a vida e o que queremos dela e, assim, se tirar uma conclusão para alguns fatos.
Quem me dera poder falar de dias melhores. A escola, vista como importante na formação do indivíduo, não tem suas culpas? E até quando a sociedade ficará inerte ante a violência desenfreada? A lembrança de “Sodoma e Gomorra” não deve se aplicar somente a nossos momentos na igreja. Como fazer uso das palavras da Bíblia, se as esquecemos no exato momento em que não sendo com nossa família “não estamos nem aí”? A Palavra de Deus testifica que somos todos filhos do mesmo Pai.
Eu poderia falar de muitos atos de violência e até me questionar do porquê desta crônica... Ai, meu Deus! Isso vem das lágrimas que vi nos olhos de uma mãe que perdeu o filho por envolvimento com drogas. E por me sentir frágil diante da vida.

domingo, 31 de julho de 2011

Que vergonha é escravizar

Na história do Brasil, encontramos o tema da escravidão, considerado como a imagem do cativeiro negro dos mais perfeitos. Ao se falar em escravidão, é difícil não pensar nas formas desumanas e cruéis pelas quais nossos negros africanos passaram. Muito da história da escravidão no Brasil foi contada em livros didáticos e, a maior parte, fala-nos do trabalho escravo nos engenhos e nas minas de ouro.
Agora, há mais de um século da abolição da escravatura ainda há trabalho escravo no Brasil. E o Piauí está na lista do Ministério do Trabalho. São quantas mesmo as empresas? Ahn, dez.
Como se fossem os donos de Navios Negreiros, cuja essência de horror se encontra no poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, os proprietários dessas empresas tratam trabalhadores como mercadorias onde muitos vivem em condições desumanas. Segundo reportagem de Pedro Alcântara, no 180graus (30/07/2011), o Piauí tem dez empresas no cadastro de trabalho escravo.
As condições de trabalho é um dos temas mais sérios para a Justiça do Trabalho. E quando se fala em trabalho escravo, não há como não falar dos princípios e das garantias individuais previstos tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos quanto na Constituição Federal.
Segundo a Constituição Federal “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. E apenas cito que Dos Direitos Humanos no Artigo 29:I Há uma clara liberdade para todo homem com relação a viver numa comunidade conforme o quanto sua personalidade lhe permite.
Então, surgem perguntas cruciais em minha mente:
1.     De que parte da Lei esses empresários não entenderam?
2.  Se nenhum homem pode ser submetido a tratamento desumano ou degradante, por que “homens” como “esses” piauienses (e jogo nas aspas todos os dez), tentam eliminar o que nos garante uma vida em sociedade e de forma cidadã?

Mas por enquanto me calo para ouvir as respostas (se é possível alguém ter defesa para ato tão bárbaro) no uso de minha condição de piauiense (e que ama esta terra).